Aquela nossa praça

Fonte nova - 2016
Fonte antiga


Marilurdes Martins Campezi (Lula)*

Sim. Era coberta de sombras das árvores, sombras que bailavam no chão asfaltado, misturadas às das asas das andorinhas a voarem no calor do mesmo sol que hoje nos queima a pele. Falo da Rui Barbosa, nosso centro irradiante das garatujas de ruas invejosas do traçado de Paris, ruas que se cruzam com o misterioso rabisco de tantas outras ruas, a formarem u m labirinto cujas saídas são incógnitas para os visitantes de Araçatuba. Ali, nas ocasiões festivas, sonhos ora explodiam com as pipocas, ora dançavam com a banda do coreto que teimava em ser o eixo do carrossel das crianças a girarem à sua volta.

Em feriados e finais de semana, famílias, de todos os pontos da cidade, vinham pelas ruas Floriano Peixoto, Joaquim Nabuco, Marechal Deodoro, Carlos Gomes, Oswaldo Cruz, Campos Sales, Prudente de Morais e Luís Pereira Barreto.  Essas ruas pareciam raios que conduziam as pessoas para o centro de alegria das noites de domingo na praça.

Os bancos espalhados pelas alamedas não eram o bastante para todos que ali chegavam, mas as rodinhas de conversa eram tão prazerosas que superavam qualquer desconforto dos pés.

Ali ficavam casais de namorados, crianças, idosos e outros adultos. As jovens, enfeitadas pela moda, andavam infindáveis quilômetros, a desfilarem para rapazes que permaneciam em alas em volta da praça e pela Osvaldo Cruz, para se deliciarem com o “flertar” sem compromisso.

Um dia, uma fonte luminosa encheu de cores o centro da praça. Sinto na pele a garoa esparsa pelo chuveiro das águas do aquário gigante. Fogos, como sempre, estouraram durante a inauguração.
Sim. A praça era nossa, mas nunca nos consultaram sobre a necessidade das tantas reformas: a derrubada das árvores que praguejaram de “lacerdinhas” (e como eles grudavam nas roupas amarelas...); o jardim suspenso e mais derrubadas de árvores, como as figueiras; o velho coreto demolido em favor de um mais moderno, em forma de meio círculo e com degraus; a demolição do moderno para a instalação novo coreto, caricatura do antigo; e, mais recentemente, a reforma total da praça em desenho mais moderno e arrojado, porém deserto.

Este relato tem uma finalidade: mostrar que a vida é força contínua, não estaciona no tempo nem no espaço, por mais que queiramos segurar os momentos que nos fazem felizes. O movimento de cada um, naquela praça, ficou como lembrança boa; as mudanças feitas no espaço físico guardaram as intenções de cada um que as fez; a tecnologia, a violência e a pressa tiraram o povo frequentador das praças de seus costumeiros passeios, mas  outros os substituíram.

No entanto, a Praça Rui Barbosa continua nossa. Ela nos ajuda a devassar, com nosso olhar, a história do centro desta cidade, assim como as praças João Pessoa, Getúlio Vargas (agora Praça do Estudante) e outras tantas que estão sendo zeladas e frequentadas por cidadãos araçatubenses. Ao poder público fica o dever de conservar esses logradouros e muitos outros onde a população possa usufruir de lazeres saudáveis, dentro dos padrões atuais de necessidades e oportunidades. A praça, as ruas, os bosques, os espaços em volta de lagos, e outros espaços estão abertos para a população; apenas é preciso cuidar deles um pouco mais, para que a frequência se torne prazerosa, e a qualidade de vida seja real.

                                                              *Marilurdes Martins Campezi é professora, escritora e membro da Academia Araçatubense de Letras

                                                                  

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