Araçatuba - Saudade que não acaba mais - Bié, O Prosador

Um aconchego, a casa que encontrei para alugar em Araçatuba, na rua José Theodoro de Lima, 276, Bairro São João, de propriedade do que se tornou meu inesquecível amigo,  seu José Benavente, esposo de D. Maria Mungo.  O que mais me agradou foi o terreno ao lado, sombreado por um frondoso pé de laranja, os frutos ainda pequeninos olhando o mundo por entre as frestas das flores, que segundo D.  Dolores, sogra do seu Zé, espanhola sexagenária, tinha sido uma florada tardia, eis era o mês de outubro do ano de 1962.

Eu viera transferido da cidade de Agudos para a diretoria regional do então Banco da Lavoura, e meus colegas de trabalho, turma brincalhona e extrovertida, sempre arrumava alguma desculpa para comemorações,  e de uma das vezes que se reuniram lá em casa, encantaram-se com os frutos já de vez, prevenindo-me sobre as dores de cabeça que eu ia ter, pois havia por ali amigos do alheio, e em poucos dias já não mais haveria nenhum fruto para  “contar o caso”.

Aquilo me deixou preocupado, e o assunto tomou corpo, levando-me a engendrar um plano  de modo a dificultar a ação  dos penetras. Cheguei até a elaborar uma espécie de gráfico da armadilha que eu imaginara seria a salvaguarda das apetitosas laranjas e igualmente do pé de limão galego, também carregado, os galhos dobrando-se ao peso da carga de frutos.

Instalada a gambiarra, passei a dormir mais tranqüilo, os colegas sempre a indagar se estava indo tudo bem, mas que eu tomasse cuidado.

Infelizmente, eu já passara pelo primeiro sono quando o tilintar das incontáveis latas da armadilha  deu o alarme, e mais que depressa alcancei a fresta do vitrô, e de espingarda em punho abri a porta e gritei com eles, apontando a arma já a ponto de tiro. Saíram em disparada e dando risadas e mais risadas, sem levar nenhum fruto.

 Foi um custo pegar no sono novamente, pois agora era eu que ria a valer, aquilo de até chorar de tanto rir.

Dia seguinte, logo cheguei ao serviço, novas gargalhadas, e a peça que me pregaram veio solidificar ainda mais a nossa amizade, quando fiz questão de mostrar a eles que aquela espingarda - um pedaço de madeira e um cano de guarda-chuva - era o produto de minha fértil imaginação.  

Daquela turma guardo com carinho os momentos de boa convivência: Neuclair Alleixo, Isaías,  Moacir Bonadio, Nélson Paques Terra, Assad Hadad, Ivanir Furlan, Valério Cambuí, Jair Dornelas, João Honório, Perceu Pereira, Juacir,  Enoy Rufino, Vanda Fernandes, Cidinha do Assad, e ainda  Laerte Batista Ferreira, Carlos Andrade,  Décio Motta e Carlota Ferrari, de saudosa lembrança. 

*Bié, O Prosador é Gabriel Araújo dos Santos é escritor, com mais de 80 anos, atualmente mora em Campinas-SP

2 comentários:

  1. Grande Bié, saudades deste lugar que tão bem conheci... Abração meu amigo .

    ResponderExcluir
  2. Dos amigos acima citados, conheci o Moacir Bonadio, cooperado da COOPBANC aonde eu trabalhava, e fui aluno do Nelson Paques Terra, filho do Prof. José Terra de quem também fui aluno. Muitas saudades daquele tempo.

    ResponderExcluir