Moro onde moro,
moro no Paraíso,
do outro lado da linha.
A linha é uma linha divisória
entre os pretensiosos
e os despretensiosos,
e o trem vem lembrar
que divide.
As abelhas obreiras
deixam o mel do lado de lá
e voltam voando
em suas bicicletas
ao lado de cá.
De lado de lá
é a cidade das boutiques,
das mansões e dos edifícios,
dos pioneiros e dos mineiros,
do Araçatuba Clube,
das caras macambúzias
de dentes alvos,
da valorização absoluta.
Do lado de cá
é a cidade dos botecos
das casas simples
dos novos e dos deserdados,
do bosque municipal,
das caras sorridentes
sem dentes,
da amizade absoluta.
Há certos momentos
que a linha deixa de ser linha
pra ser cerca,
e os garanhões arrebentam-na
pra virem pescar
as piranhas de cá,
as de lá não os satisfazem.
Os jovens de cá
não sonham com o poder,
os prefeitos nascem do lado de lá.
Já quiseram
arrancar a linha,
mas o ministro disse:
-É problema de todas as cidades.
Nasci do lado de cá,
morei do lado de lá
e sou o poeta do Paraíso.
*1978
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