Ainda há muito da rua Treze de Maio, não basta mudar o nome. Para apagar da memória a alegre triste vida desta rua,
levará muito tempo.
As histórias passam de geração a geração. Pedaços daquela
rua se espalharam pela cidade e as meninas debruçadas nas janelas
da vida, deslumbradas, acreditam que a vida mudou. O falso brilho da
mais velha das profissões continua fazendo vitimas. Ninguém aboliu da
escravidão às
garotas de programa e fingir prazer fica bem distante da
felicidade.
Aquela rua ainda guarda seus fantasmas, ao passar por ela,
vêem-se os becos onde a vida era mais sórdida. O grito de socorro
era abafado, os carinhos vendidos, a proteção subornada. Quem tem
curiosidade e um dia se interessar por ouvir sua história, vai ouvir os lamentos
que escapam pelas rachaduras das paredes da rua dos prazeres poucos, e
sofrimentos múltiplos revelados vendidos.
O som das guarânias, boleros e tangos que ainda machucam o cotovelo da Rua Quinze de Novembro abrem o arquivo morto da
Rua Treze de Maio.
Assim como a rua, nada mudou da vida suada misturada a Cashimir Bouquet, perfume Tabu e muito álcool, a danada vida
expulsa da Rua Treze se espalhou pela cidade distribuindo seus ais.
O nome realmente pouco importa, suas casas são velhas lembranças que Araçatuba não quer apagar. O apogeu da
agropecuária foi registrado ali sobre os sujos lençóis da poeira que a boiada
levantava.
O preço combinado do prazer poderia ser por minutos, mas
quase sempre a mulher da vida pagava com a vida.
Ainda há os saudosos que das janelas dos carros, olham para
as fechaduras enferrujadas à procura dos prazeres envelhecidos.
Outros reviram o lixo, na busca do DNA dos pais. Boiadeiros, era a
bola da vez, hoje aos jogadores de futebol, não faltam marias chuteiras.
Uma revelação importante sobre a prostituição eu ouvi certa
vez de um delegado já falecido. Havia uma carteirinha e caso a
mulher fosse
encontrada duas vezes se prostituindo ela era fixada.
Indignada contestei.
- Então poderia ocorrer de transformarem uma mulher em prostituta independente da vontade dela.
Era lei, acreditavam com esta medida diminuiria a propagação
da
sífilis.
Hoje está tudo muito livre ao ponto de experiência de vida
ser confundida com experiência da vida.
Mudaram o nome da Rua Treze de Maio para 15 de Novembro. A prostituta está sem rua, sem rumo e sem destino. O salário é
a droga, a Rua Treze continua na mesma, hoje sem um espaço para chamar de
seu perambula por toda a cidade.
*Emília Goulart dos Santos, escritora, membro da Academia Araçatubense de Letras, vários livros publicados.
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