Poema Araçatuba - Clóvis de Arruda Campos

Poema: Araçatuba
Dedicado ao Dr. Valadão Furquim
Ano: 1938
Autor: Clóvis de Arruda Campos

Os gigantes de botas de sete léguas passaram por aqui, montados de remo, no lombo xucro do Tietê.

Eles foram piores do que Átila.
Este, onde atirava as patas do seu cavalo, a relva não mais nascia; e eles, onde calcaram seus tacões de botas, nasceram brotos de cidades.

A bugrada fugiu de medo do chapéu de couro,
Daqueles homens doidos pelo ouro...

E depois...

O trem de ferro, que tem o luxo de ser puxado por duas muçuranas de aço,
deu um berro,
deu um grito,
deu um silvo
deu um apito,
jogou o fogo em estilhaço, varreu o capão de araçá.
E a cidade assustada pulou de trás da moita.
Foi assim que Araçatuba nasceu. 

Menina cabocla, cabocla bonita, com cheiro de mato ainda.
Bugra assustada, que olha de espanto, na janela da mata,
o progresso que marcha de acelerado.

Araçatuba, sentinela avançada na ofensiva das cidades paulistas,
que marcham para o sertão.
Sonho do bandeirante-milagre do Tietê.

Araçatuba, reticência de progresso.
Ponta da flecha da civilização,
Que partiu vibrando do arco de Tibiriçá;
daquele velho cacique
que um dia levou Anchieta ao topo do Jaraguá.

E o monge de sotaina
com uma  vara de condão
benzeu as águas do rio,
deu-lhe o poder do Jordão.

A caudal desceu da serra...
Nada mais resistiu
e as cidades vieram rolando  do lombo liso do rio
Farrapo de bandeira,
Araçatuba – pedra rolada
que o rio deixou por derradeira,
no fim da caminhada,
como fecho de uma história
no eco de uma violência.

Termina o Tietê: Araçatuba-reticência...

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