Em 2 de dezembro
de 1908, ainda em plena floresta, foi inaugurada a estação ferroviária Noroeste
do Brasil. Numa clareira, levantaram-se as primeiras moradas, ranchos simples e
cobertos de sapé. À direita do leito da via Férrea se instalou Miguel Caputti,
conforme registros históricos sobre a fundação do patrimônio.
Em 2006, na segunda
quinzena de janeiro, cheguei a Araçatuba como bolsista para cursar Publicidade
e Propaganda. Não conhecia quase nada sobre a cidade e sua origem. Aluguei um quarto na casa de uma professora
de idiomas, na rua Miguel Caputti, no bairro Vila Estádio, onde morei por quase
três anos.
Durante meus
primeiros dias em Araçatuba, busquei mais sobre a história da cidade. Sabia que
era conhecida nacionalmente como a “capital do boi gordo”, mas queria saber
mais. Então, visitei o Museu Histórico e Pedagógico Marechal Rondon, a
Biblioteca Rubens do Amaral, a Academia Araçatubense de Letras e a praça Rui
Barbosa, também conhecida como “praça do boi gordo”.
No meu segundo
domingo, em Araçatuba, passei a tarde contando histórias para crianças na
Livraria Nobel. Naquela época, a livraria ainda possuía uma unidade no
Araçatuba Shopping. Enquanto voltava caminhando para casa, no finalzinho da
tarde, na rua Miguel Caputi, uma chuva de verão me surpreendeu. E se não fosse
um casal me oferecer abrigo, teria ficado encharcada.
Ao nos reunirmos
na sala, para minha grata surpresa, em meio a uma pancada de chuva, descobri um
conterrâneo. Não, não estou me referindo ao famoso pecuarista e empresário Tião
Maia, mineiro de Passos, assim como eu.
Logo, constatei como o mundo é pequeno. A uma quadra do meu novo
endereço, tive o prazer de conhecer um concidadão e sua esposa, uma mulher que
fez história nas Letras de Araçatuba.
Naquele
finalzinho de domingo, por aproximadamente 20 minutos, o casal Lúcia Maria
Milani Piantino e José Márcio Piantino me proporcionou uma alegre acolhida.
José Márcio me perguntou sobre Passos, falou um pouco sobre sua família, sua
história... Entre um trovão e outro e uma chuva forte, a professora de Língua
Portuguesa Lúcia Piantino, nascida em Campo Grande/MS, discorreu sobre o projeto
que coordenava: “Folha da Região na Sala de Aula”. Naquele ano, a ação
educativa existia há quase 12 anos.
Tempos depois,
tomei conhecimento da grandeza dessa educadora, dos seus feitos e de algumas de
suas obras. Lúcia foi escritora, professora, membro fundadora da Academia
Araçatubense de Letras. Autora do romance Boinu, que recebeu menção honrosa na
edição de 1992 do "Concurso Literário Graciliano Ramos", da UBE
(União Brasileira de Escritores). Graciliano, aliás, era seu patrono na AAL.
Infelizmente, aos 67 anos, ela faleceu no dia nove de setembro de 2011.
Apesar do céu nublado e dos fortes trovões,
o final daquele domingo me trouxe gotas de inspiração. Estava longe dos meus,
mas sempre que passava em frente àquela casa, sentia-me inspirada por uma
mulher incrível, uma imortal. Sempre que lia os textos da professora Lúcia,
publicados pela Folha da Região, lembrava-me daquele encontro singular, do meu
começo araçatubense na rua Miguel Caputi, batizado, literalmente, por uma chuva
de verão.
*Cintia Brasileiro. Formada em Publicidade e
Propaganda pelo UniSalesiano com especialização em Literatura e Língua
Portuguesa pelo UniToledo. Trabalha como redatora publicitária, contadora de
histórias e produtora editorial.
Cintia, sou apaixonada pelo seu trabalho! Parabéns minha querida!
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